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Força Paraná e Federação dos Metalúrgicos participam de Congresso Nacional de Medicina do Trabalho em Foz do Iguaçu

Diretores da Força Paraná e da Federação dos Metalúrgicos do estado participaram, neste final de semana, do 16º Congresso Nacional de Medicina do Trabalho, que aconteceu em Foz do Iguaçu. O evento é promovido pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho - ANAMT - e teve uma oficina voltada para debater a luta e os desafios dos trabalhadores por mais saúde e segurança no trabalho.

“Neste evento em que reunimos três mil médicos do trabalho, fizemos questão de promover também uma oficina para saber o que os trabalhadores pensam e como podem contribuir para melhorar a medicina do trabalho no Brasil”, disse o presidente da ANAMT, doutor Zuher Handar.

“Hoje com a recessão econômica, muitas empresas tentam se aproveitar da ameaça de desemprego para flexibilizar direitos e condições de trabalho, intimidando e impondo aos trabalhadores um ritmo excessivo de produção através do acúmulo de função e um ambiente de competição, situações que contribuem muito para a precarização das condições de trabalho e o aumento de acidentes e adoecimento do trabalhador. Por isso, estamos aqui neste evento importante para debater como o movimento sindical deve ser organizar para enfrentar e se defender desta situação e criar um ambiente seguro para o trabalhador”, disse o presidente da Federação dos Metalúrgicos do Paraná, Sérgio Butka.

Sindicatos participantes

Entre os Sindicatos que participaram do evento estão os metalúrgicos da Grande Curitiba, de Pato Branco, Cascavel, Maringá e Paranaguá. Também participaram o Sindicato dos Aposentados do Paraná, Texteis, Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana, bebidas, Asseio e Conservação de Ponta Grossa e diretores da Federação dos Metalúrgicos do Paraná. Além disso, Sindicato de outras Centrais brasileiras e do exterior também estiveram presentes.Sustentabilidade e prevenção.

No primeiro dia evento, os trabalhadores debateram com o diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Peter Poschen, como a sustentabilidade pode ser usada ajudar na geração de empregos e na construção de um ambiente de trabalho decente, trazendo benefícios tanto para os trabalhadores, as empresas e o planeta. "A transição para uma economia verde pode levar a avanços significativos em inclusão social e de economia para as empresas É preciso ter em mente que a sustentabilidade não é uma opção, é uma necessidade”, enfatizou Poschen.

Neoliberalismo produz uma multidão de doentes
Após esse debate, os dirigentes sindicais debateram como professor Ricardo Antunes, da Universidade de Campinas e com o professor Herval Pina Ribeiro, da Universidade Federal de São Paulo, como a tecnologia tem transformado o sistema de produção e de organização laboral e como isso tem provocado o adoecimento dos trabalhadores. “O ritmo imposto faz com que as pessoas adoeçam e sejam afastados do processo produtivo, autopunindo-se pelo fracasso. As pessoas estão morrendo por causa das metas, estão adoecendo. Esta se criando uma sociedade de doentes do trabalho”, alertou Antunes.

 Os dois também atacaram o modelo neoliberal, que busca aumentar os lucros através da flexibilização e diminuição dos direitos.

 Luta pela saúde em outros países
Os trabalhadores também conheceram como é a luta sindical na Argentina e no Peru. Dirigentes sindicais desses países relataram suas experiências e estratégias de enfrentamento contra a precarização e pela implantação de políticas de saúde através da luta para defender e aprovar leis que aumentassem a segurança para os trabalhadores.

O argentino Mauro Posada apresentou que um dos problemas da precarização enfrentados pelas entidades sindicais argentinas é alcançar os trabalhadores informais. Dessa forma, os Sindicatos estão sempre promovendo campanhas de conscientização para alertar os trabalhadores sobre seus direitos. Também foi apresentado uma conquista do Sindicato, que fez com o que o governo trocasse a carteira de trabalho em papel por um cartão magnético que trazia todos os dados do trabalhador e como isso estava evitando fraudes trabalhistas.

O peruano Fredy Jara mostrou como a atuação sindical ajudou a construir uma série de normas técnicas e leis que tem aumentando a prevenção de acidentes e adoecimentos entre os trabalhadores. Entre elas a norma técnica que definiu que os sacos de cimento devem ter 25 quilos e não mais 50 quilos, como era até então e que estava sacrificando os trabalhadores da construção civil.

Outra luta dos Sindicatos peruanos é para evitar as fraudes. Como exemplo, ele citou a lei que determina que o empregador deve capacitar o empregado: se conversa cinco minutos com o trabalhador e o patrão alega que ele já está qualificado, liberando o empregado operar o maquinário.

2º DIA
 O 2º dia do encontro começou com a apresentação do documentário “Linha de Corte”, do educador e cineasta Beto Novaes, que mostrava a dura realidade dos cortadores de cana, que são obrigados a cortar de 10 até 15 toneladas de cana por dia e como isto destrói o corpo do trabalhador em pouco tempo gerando acidentes, esgotamento e morte.

Trabalhador é deixado de lado na organização do trabalho
Já o espanhol Salvador Moncada, do Instituto Sindical de Trabajo, Ambiente y Salud da Espanha, debateu sobre como é possível melhorar a organização laboral inserindo também o trabalhador no planejamento do ambiente do trabalho. “Hoje, o trabalho numa fábrica é pensado e organizado por quem não tem contato direto e nem conhece a realidade do local de trabalho. Não há nada mais carente de método científico do que isso".

 Para Moncada, esse tipo de situação faz com que o trabalhador não se sinta parte da empresa.“O trabalhador é descartado. Somos simplesmente um recurso a mais, uma matéria prima que quando se desgasta é apenas descartada e trocada por outra”, resumiu.

Outra apontamento de Moncada é que essa situação acaba fazendo com que sejam estipuladas metas fora da realidade prática do trabalho, levando os trabalhadores ao adoecimento físico e psicológico devido à autoculpabilização de quem não consegue alcançar essas metas. Alie-se a isso o ambiente de competição que é fomentado pela empresa. “Criar uma forma de trabalho que nos obriga a competir em vez de cooperar é uma coisa absurda. Os seres humanos são seres sociais, precisamos uns dos outros. Estipular uma forma de trabalho que nos obriga a competir é contraditória. Esse é o conflito de fundo do ambiente de trabalho”, diz Salvador.

Para o professor, a solução é lutar pela democratização no ambiente de trabalho, com o trabalhando também fazendo parte da tomada de decisões: “É muito importante a participação do trabalhador para a elaboração de procedimentos justos de trabalho. Temos que impedir métodos de trabalho que nos obrigam a competir com o outro. A forma cooperativa é muito mais produtiva”, finalizou Moncada.

Assédio moral e de gênero
A professora Margaria Barreto debateu como a sociedade é tomada pelo discurso de eficiência do mundo corporativo e como isso tem criado de forma silenciosa uma legião de trabalhadores doentes. Para ela, hoje se inseriu o elemento da sedução no ambiente de trabalho. “Toda empresa tem um discurso bonito de habilidades, competitividade, de ultraflexibilidade e que induz o trabalhador a acreditar que isso é excelência levando-o a se culpabilizar quando ele não corresponde a essas expectativas mesmo se sujeitando em esforços para além dos limites do corpo”, diz Margarida.

Para ela esse discurso não passa mais do que uma nova forma de exploração. “Nessa propaganda, o trabalhador deve ser incansável, aqueles que não reclamam, que não faltam ao trabalho, que não adoecem”, diz a professora, criticando a política agressiva de motivação imposta aos trabalhadores. “. A cobrança por maiores resultados e a ameaças de perder o emprego sempre andando juntas, com o trabalhador tendo sempre que cumprir mais e mais metas.”

Os resultados dessa política são desastrosos para os trabalhadores com aumento de casos de estresse, depressão e outros tipos de sofrimento psíquico. Como exemplo, a professora Margarida citou a situação dos funcionários do Banco Santander: dos 22 mil postos de trabalho fechados nos últimos cinco anos, quase metade dos trabalhadores (45%), apresentava alguma enfermidade proveniente do ambiente de trabalho. “São casos e casos de constrangimentos, exclusão, ameaças e ostracismo impostos de maneira repetitiva a quem não corresponde ao ritmo intenso e a metas exageradas provenientes de um modo perverso de organização do trabalhoe que irão atingir em cheio o sistema psíquico das pessoas causando uma série de doenças”, diz Margarida, mostrando como se dissemina o assédio: “se a pessoa atingida é o homem, ele é julgado e levado a se considerar como fraco. Se é mulher, entra o fator preconceituoso de que ela não “aguenta o tranco” porque é mulher”, diz a professora.

Para combater isso, Margarida diz que é preciso lutar por uma  forma de organização de trabalho que leve em conta a pessoa do trabalhador e não apenas resultados: é preciso pensar numa nova sociedade, numa nova forma de organizar o trabalho com novos valores. É preciso desconstruir as violências dos mundo do trabalho”, finaliza Margarida.

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