Decisões de novos investimentos devem ser suspensas, diz Ipea
As incertezas relacionadas à crise financeira mundial devem levar à suspensão de decisões de novos investimentos no Brasil por um período, mas com manutenção dos que já estão em execução, prevê o coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Nonnenberg. "A gente espera que as decisões de novos investimentos sejam suspensos até o cenário ficar mais claro", afirmou.
"Não se descortina o fim da crise ainda", disse o economista. Para ele, "ainda é um pouco cedo para compreender todos os efeitos da crise". Segundo o coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Ipea, o primeiro efeito da crise está sendo no câmbio. Ele argumentou que tanto a desaceleração da economia mundial quanto a redução dos preços das matérias-primas (commodities) devem ter impacto negativo sobre as exportações brasileiras.
No entanto, não houve até agora efeito sobre as exportações e Nonnenberg avalia que só a partir do ano que vem esses efeitos serão sentidos, inclusive em função de contratos já firmados com preços fixados para a exportação de commodities.
PIB
A expansão do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no País) este ano não deve ser prejudicada pela crise internacional e pode superar o teto de 5,2% da projeção oficial do Ipea, segundo Nonnenberg. "Nem a crise internacional, nem nenhum outro fator vai afetar de forma substancial o crescimento da economia brasileira em 2008", disse ele, que, no entanto, espera desaceleração para o ano que vem.
Nonnenberg e o pesquisador especializado em atividade econômica do grupo, Leonardo Mello de Carvalho, admitiram que o crescimento do PIB "pode" superar o teto da projeção oficial para este ano, feita em março, baseado em um "exercício" exposto por Carvalho. De acordo com o pesquisador, com os resultados já divulgados pelo IBGE para o PIB no primeiro semestre, se a economia brasileira não crescer nada no segundo semestre, o PIB teria expansão média de 4,7% no ano. Caso a economia cresça 0,5% no terceiro trimestre e mais 0,5% no quarto trimestre, a expansão do PIB chegaria a 5,1%, já próxima ao teto da projeção oficial.
Inflação
A inflação pode fechar o ano "em 6% ou até menos", de acordo com a pesquisadora especialista em inflação do Grupo de Análise e Previsões do Ipea, Maria Andréia Parente. "O cenário para o fim de ano está permeado pela desaceleração dos preços dos alimentos", comentou. Ela cita como influências para a desaceleração da inflação dos alimentos a boa safra e a queda de preços de commodities agrícolas.
"As taxas de juros sobre alimentos influenciam pouco", disse. No texto da Carta de Conjuntura Ipea de setembro, divulgada hoje, há observação de que a valorização do real contribuiu nos meses anteriores para atenuar os efeitos da alta de preços de commodities. "Para os próximos meses, tem-se que, se por um lado, a taxa de câmbio pode deixar de contribuir com o controle inflacionário, por outro, uma queda nos preços internacionais das commodities, originada por uma desaceleração no ritmo de crescimento da economia mundial, pode neutralizar este efeito", registra o texto.
Produção industrial
O Indicador Ipea para a produção industrial projeta aumento de 2,5% em agosto em relação ao mesmo mês do ano passado e redução de 0,5% na comparação dessazonalizada com julho. O resultado, se confirmado, significará desaceleração do ritmo de expansão da indústria que tinha crescido 8,5% em julho ante o mesmo mês de 2007 e 1% frente a junho.
De acordo com o pesquisador do Ipea responsável pelo indicador, Leonardo Mello, a desaceleração é influenciada pelo menor número de dias úteis de agosto deste ano em relação a agosto do ano passado. No caso da série dessazonalizada, também influi o fato de julho ser uma base de comparação alta. O Indicador Ipea tenta antecipar, com base em alguns setores representativos, como automóveis, papelão e fluxo de veículos pesados, os dados de produção para a indústria geral que serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no próximo dia 2 de outubro.
Fonte: Estadão