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Trabalhadores saem às ruas e promovem mais greves em 2008

Não é mera impressão. O número de paralisações e greves neste ano está maior do que o total registrado no ano passado, quando foram registradas 316 greves, totalizando 28.519 horas paradas, de acordo com Clemente Ganz Lucio, diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

"De 2004 a 2007 o número de greves manteve-se mais ou menos o mesmo, na faixa de 300 por ano. Ainda não temos o balanço fechado, mas neste ano o número cresceu consideravelmente, principalmente as paralisações de um dia".

O fortalecimento das mobilizações decorre em parte do cenário econômico, observa Lucio. Antes do agravamento da crise externa, em setembro, os indicadores sinalizavam uma economia brasileira robusta, com um Produto Interno Bruto (PIB) crescendo 5,2% até junho, demanda interna expandindo-se 6,81% e a produção industrial crescendo 6,3%. "O cenário econômico ainda é favorável e os sindicatos aproveitam para pedir reajustes compatíveis com os ganhos que as indústrias obtiveram ao longo do ano", afirma Lucio.

Um fator emocional também foi decisivo para estimular os movimentos grevistas, avalia Ricardo Antunes, sociólogo e professor da Unicamp. "Sindicatos ligados ao PT e à CUT, como são muito lulistas, estão cumprindo o chamamento do presidente Lula, quando disse que esse era o momento de os trabalhadores se mobilizarem", afirma.

Antunes se refere ao discurso que Lula fez em maio, durante cerimônia de celebração dos 30 anos da greve na Scania, em São Bernardo do Campo (SP), a primeira desde a publicação do Ato Institucional nº 5. A mobilização liderada pelo então sindicalista Lula deu origem a uma série de greves no setor automotivo naquela época. 

A evolução do cenário econômico também é levado em consideração pelos sindicatos, de acordo com Antunes. Olhando para trás, os sindicalistas vêem quase cinco anos de crescimento econômico e um movimento de recuperação de perdas salariais registradas entre a década de 1990 e os primeiros anos da atual década ainda com espaço para novos ganhos acima da inflação em 2008, afirma Antunes.

"Nunca um governante remunerou tão bem os capitais — e isso vale para bancos, capital produtivo, setor de serviços, comércio, todos. E os sindicatos também têm consciência disso", acrescenta.

Olhando para frente, pondera, a certeza de que a crise financeira internacional impactará a economia doméstica em 2009, podendo inclusive provocar elevação do desemprego, gera entre os sindicalistas a sensação de que as chances de obter ganhos salariais acima da inflação vão se reduzir drasticamente no próximo ano. "Criou-se uma sensação de que é agora ou nunca".

Na avaliação do consultor João Guilherme Vargas Neto, não há nada mais desmoralizante para a campanha salarial do que o desemprego. "O desemprego desmobiliza, desmonta o movimento. Quando o cenário piora, a luta fica mais defensiva. Mas num cenário em que ainda ocorre o aumento do emprego formal, os trabalhadores ainda encontram um instrumento de pressão para negociar ganhos reais", diz.

O balanço entre esses fatores tem sido considerado pelos sindicatos, segundo Vargas. E por isso as negociações no segundo semestre apresentaram maior número de paralisações (de horas ou turnos) e greves.

"A marca dos metalúrgicos deixou uma mensagem bem clara ao patronato: 'eu quero o meu'. E eles tinham condições de fazer exigências, não só pelos ganhos que as empresas apresentaram ao longo do ano, mas também pelo crescimento da categoria, que com o emprego formal voltou a somar 2 milhões de trabalhadores no Brasil", observa Vargas.

Mesma avaliação faz Lucio, do Dieese, para quem as negociações entre empregados e empregadores ficou mais difícil no segundo semestre. Ele inclui em sua avaliação um fator macroeconômico que dificultou as negociações salariais antes mesmo da crise financeira externa: o repique inflacionário.

"À medida que a taxa da inflação acumulada em 12 meses começou a crescer acima do centro da meta estabelecido pelo governo federal, as negociações foram se tornando mais difíceis e, paralelamente, as greves e horas paradas aumentaram", afirma ele. 

A dificuldade para a conclusão de acordos tornou-se maior nos últimos meses. Até julho, as greves de maior repercussão foram a dos funcionários dos Correios, categoria que reúne 108 mil trabalhadores, que durou 21 dias, e a dos auditores-fiscais da Receita Federal, de 52 dias.

No segundo semestre, houve mais casos. Em setembro, os trabalhadores das montadoras de São Paulo e do Paraná destacaram-se no cenário sindical. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, 40 mil trabalhadores de 27 empresas pararam as atividades por pelo menos uma hora, para forçar o acordo salarial. Já a greve dos 30 mil oficiais da Polícia Civil de São Paulo, iniciada em 16 de setembro, prossegue sem acordo.

Os 900 funcionários da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), que fizeram greve de uma semana em setembro, também sofreram uma derrota. A juíza Cátia Lungov julgou legítima a paralisação, mas indeferiu, no dia 7, os pedidos de ganho real (de 5,41%) e garantia de emprego de três anos. Nesta semana, trabalhadores e empresa discutirão os termos do acordo coletivo. Também na semana passada, mais de 300 empresas das áreas de máquinas e equipamentos e eletroeletrônicos pararam por 2 horas, também sem acordo.

A greve geral por tempo indeterminado dos bancários, categoria que reúne 434 mil trabalhadores, chegou ao seu terceiro dia na sexta-feira, com 4.300 agências fechadas, conforme o sindicato que os representa. "As negociações estão duras com os bancos. Não houve avanço em nenhuma das cláusulas negociadas", diz Vagner Freitas, presidente do Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

Na sexta, a Justiça do Trabalho determinou que 70% dos serviços sejam mantidos nas agências bancárias de São Paulo. A audiência de conciliação para analisar o dissídio da categoria está marcada para esta terça-feira (14) no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT/SP).

Fonte: Valor Econômico

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