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Últimas manifestações expõem a força da nova classe média na China

A mobilização social obriga as autoridades a fechar uma usina química. A população com maior renda e educação luta por um desenvolvimento sustentável

Cerca de 12 mil pessoas foram à rua no domingo passado (14) em Dalian - uma próspera cidade portuária da China, na província de Liaoning, norte do país - para pedir que uma usina química que produz paraxileno (PX) fosse transferida de lugar, diante do temor de que ocorressem vazamentos tóxicos. O protesto transcorreu na maior parte de forma pacífica, embora tenha havido alguns confrontos entre manifestantes e policiais. As autoridades de Dalian anunciaram no mesmo domingo que a instalação seria fechada imediatamente e removida para outro lugar, mas não disseram quando.

As mobilizações na China não são novidade. Elas ocorrem todas as semanas e têm cada vez maior repercussão, graças à Internet e especialmente aos microblogs (serviços de mensagens curtas). Mas o que surpreendeu nesta ocasião foi a rapidez com que o governo municipal cedeu às exigências, apesar de a instalação ser fonte de volumosas receitas, na forma de impostos.

A decisão deixa claro o poder da pujante classe média chinesa, que goza de boa situação econômica e educação superior e faz uso frequente das redes sociais e dos telefones celulares para se comunicar e organizar. Além disso, revela a crescente ousadia da população para exigir ações das autoridades, em particular quando se trata de problemas ambientais, apesar de estas atenderem em raras ocasiões.

Os protestos surgiram depois que as ondas provocadas pela tempestade tropical Muifa romperam um dique que protege a fábrica Fujia e surgiram temores de que houvesse um vazamento tóxico. Apesar de as autoridades terem reparado rapidamente a obra e insistido que não havia escapado nenhum produto químico, a notícia correu como pólvora e provocou pânico diante da possibilidade de que tivesse saído PX. Uma série de apelos em microblogs e outros serviços de mensagens instantâneas pediram aos residentes de Dalian que se manifestassem no domingo.

O paraxileno - um produto químico utilizado na fabricação de poliéster para têxteis e garrafas plásticas - pode causar irritação nos olhos, nariz e garganta; uma exposição prolongada pode afetar o sistema nervoso e provocar a morte. Apesar do aparente êxito da mobilização, os censores apagaram as referências ao incidente nas redes sociais, uma prática que se tornou comum para evitar a ampliação dos potenciais protestos.

É raro que as autoridades cedam aos pedidos de manifestantes, mas não é a primeira vez que ocorre. Em 2007 as reivindicações dos moradores de Xiamen (província costeira de Fujian) conseguiram o cancelamento dos planos para construir uma fábrica, também de paraxileno. Em 2009 o Ministério do Meio Ambiente disse que seria levantada em uma zona menos povoada em outra cidade.

A concessão do governo de Dalian ocorre em meio à onda de mobilizações de descontentamento que surgiram em diferentes províncias da China nos últimos meses, por motivos que vão desde a brutalidade policial à corrupção, aumentos de preços ou o acidente de um trem de alta velocidade em julho passado, no qual morreram 40 pessoas.

A decisão talvez não seja totalmente nova. Segundo o jornal "Notícias de Negócios da China", as autoridades de Dalian já tinham considerado a possibilidade de transferir a fábrica, que é capaz de produzir 700 mil toneladas de PX por ano. Os planos foram divulgados depois que o dique danificado pela tempestade foi reparado, mas as mobilizações de domingo parecem ter servido como catalisador.

O desenvolvimento chinês nas últimas três décadas foi acompanhado de uma grave deterioração ambiental, já que a prioridade absoluta foi até há pouco tempo o crescimento econômico a qualquer custo. Nos últimos anos, entretanto, as autoridades deram crescente importância ao desenvolvimento sustentável e começaram a modificar o modelo econômico.

Ao mesmo tempo, a maior renda e maior educação levaram a população a ser cada vez mais sensível aos problemas de poluição e a exigir melhor qualidade de vida e melhores serviços públicos. Os escândalos relacionados à poluição da água e a vazamentos químicos são uma causa crescente de protestos.

Fonte: EL PAÍS

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