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“Se trabalharmos só no horário comercial, não recebemos nada”

Busca por melhores condições de trabalho, cobranças dirigidas ao poder público e necessidade de auto-organização. Esses foram os pontos principais que integrantes da comunidade de imigrantes latino-americanos destacaram, em assembleia realizada pela primeira vez no domingo passado (19), na feira Kantuta — que ocorre todos os finais de semana na praça de mesmo nome, na zona norte da capital paulista. Organizado pelo Centro de Apoio ao Migrante (Cami) e pelo Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), o encontro contou com a presença de cerca de 300 pessoas.

Os latino-americanos formam um dos contingentes mais significativos de imigrantes que escolheram a maior cidade do país para viver. No mais recente processo de anistia de estrangeiros indocumentados (que teve em início em 2009 e foi concluído em 2011), dezenas de milhares - a despeito das denúncias de dificuldades colocadas pela Polícia Federal (PF) - obtiveram documentos. O Cami estima que, na região metropolitana de São Paulo (SP), o contingente total de latinos pode ultrapassar 300 mil pessoas.

“Nós não somos ladrões, não somos nada. O único pecado que temos é trabalhar mais que os outros. Por quê? Porque, se nós trabalharmos somente no horário comercial, até 17h ou 18h, não ganhamos nada. Só vamos trabalhar para comer. Então, como imigrantes, nos vemos forçados a trabalhar mais horas”, salientou o boliviano Marcos Canaviri, durante a assembleia, em referência à situação dele e de muitos conterrâneos.

Extensas jornadas de trabalho, salários ínfimos, servidão por dívida, tráfico de pessoas e condições precárias de trabalho e alojamento - em completo desacordo com o que prevê a lei brasileira - são circunstâncias que se repetem. Maria*, por exemplo, veio à cidade há três meses e costura todos os dias úteis, das 7h às 23h (confira relato). Nos últimos anos, dezenas de imigrantes latino-americanos foram libertados de condições análogas à escravidão de oficinas de costura, inclusive envolvendo grandes marcas do setor.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 20,9 milhões de indivíduos sejam atualmente vítimas do comércio de seres humanos, dos quais 78% iriam para empregos em situação análoga à de escravo e 22% para atividades envolvendo exploração sexual. Desse total de vítimas, 1,8 milhões estariam na América Latina.

Comunidade se reuniu para tratar de problemas
enfrentados em São Paulo
Segundo Juan Villegas, presidente da Associação Social Bolívia-Brasil (BolBra), o poder público brasileiro tem feito pouco tanto para combater o tráfico de pessoas quanto para contribuir para a melhoria das condições de vida da comunidade latino-americana em São Paulo (SP). “Me sinto decepcionado com as autoridades brasileiras e com alguns companheiros com quem fizemos acordos para solucionar problemas relativos à mão de obra. O que aconteceu [nos últimos anos]? Nada!”, disse, em tom enérgico. A fala dele incluiu cobranças dirigidas ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e ao Ministério Público do Trabalho (MPT), que não estiveram presentes.
Marcos manifestou posição semelhante. “Que estamos fazendo? Estamos lutando, estamos sobrevivendo. Nossas autoridades, por acaso, fizeram algo ou disseram algo, pelo menos?”, indagou, cobrando mais medidas governamentais de auxílio à comunidade.
Passo adiante
Embora muitos tenham criticado certo descaso das partes governamentais, também foi dada ênfase à necessidade de auto-organização da própria comunidade de imigrantes latino para fortalecer as reivindicações pela garantia de seus direitos. “Quem tem a culpa? Nós mesmos! Faz três anos que temos nos reunido para pedir que nos aumentem o salário. Depois não fizemos nada. Todos nos calamos”, complementou Marcos.
“O problema está em cada um de vocês, de mim, por deixar passar essas coisas. Perguntem-se o que queremos nós, o que querem cada um. Perguntem-se. E conscientizem cada pessoa em torno de vocês para o futuro. Temos apoio do lado do governo? Não sei. Mas nós não podemos dar um passo adiante?”, pronunciou Fabian Ortega, imigrante argentino, descendente de bolivianos. Para ele, antes de cobrar e procurar culpar os outros, os próprios imigrantes precisam reconhecer a situação em que estão para poder superá-la.
“Há lugares em que trabalhamos em péssimas condições. Quando vamos à firma, nosso dever é trabalhar legalmente, com documentos. Estamos de acordo ou não? Claro é que estamos”, pregou Johnny Cordori, outro boliviano, na tentativa de elevar a relevância da iniciativa de cada imigrante.
Para a organização do evento a avaliação, ao fim, foi no geral positiva, apesar da participação restrita em termos de público. De acordo com o Cami e o SPM, o evento inaugural deve ser sucedido de uma série de reuniões que deve ser promovida aos domingos na praça Kantuta, com a comunidade imigrante em São Paulo. Para Marina Novaes, advogada do Cami, a assembleia “foi importante como iniciativa". "Mas precisamos de mais apoio, porque a gente [no Centro] cumpre muito o papel que deveria ser do Estado”, completou.
Fonte: Repórter Brasil
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