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Com 55 cruzes, trabalhadores da Baixada Santista protestam diante da Usiminas

Centenas de trabalhadores de empreiteiras que prestam serviços a Usiminas, em Cubatão, protestaram, na manhã desta sexta-feira (7), diante da portaria da empresa.
Com 55 cruzes negras, simbolizando o número de trabalhadores mortos na fábrica de aço desde 1993, eles participaram de ato ecumênico, entre 7h30 e 9 horas.
O protesto foi do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, Montagem de Manutenção Industrial (Sintracomos), contra os acidentes de trabalho na siderúrgica.
O óbito mais recente foi na quarta-feira da semana passada (29), com o soldador Paulo Dias de Moura, 58 anos, da empreiteira Delta, após cair de uma plataforma de 30 metros.
Com participação de sindicatos da região e de São Paulo, familiares do morto e das centrais Força Sindical, CUT e UGT, os manifestantes soltaram centenas de balões de gás pretos.
Visivelmente emocionados, os colegas de trabalho de Paulo Moura empunharam as cruzes, ouviram discursos, rezaram o Pai Nosso, oraram evangelicamente e espalmaram as mãos espiritualmente.
O presidente do sindicato, Macaé Marcos Braz de Oliveira, orientou os trabalhadores a fotografarem e filmarem as condições inseguras de trabalho, recusando as tarefas perigosas.
“O certo é não ocorrer nenhum acidente, quanto mais com óbito”, ponderou o sindicalista, que lamentou a disponibilidade de apenas dois fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) na região.
“O principal fiscal tem que ser cada um de nós. Não queremos fiscalização para multar as empresas, mas sim para interditar os locais sem condições seguras de trabalho”, destacou.
OIT e Dilma
O presidente do sindicato, Macaé Marcos Braz de Oliveira, já levou o assunto ao Ministério Público do Trabalho (MPT). E irá denunciar a sequência de acidentes à Organização Internacional do Trabalho (OIT).
O sindicalista também comunicará o problema à presidenta Dilma Rousseff e ao presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Antônio Skaf.
“É inadmissível que uma usina de morte, argentina, instalada a 80 quilômetros da capital paulista, em pleno século XXI, continue executando quase três trabalhadores por ano”, enfatiza Macaé.
O acidente
Paulo Moura trabalhava desde as 7 da manhã, com intervalo de almoço, e morreu às 16h51, segundo relatório da empresa. Colegas de trabalho, no entanto, dizem que o acidente foi depois das 17h30.
O boletim de ocorrência da polícia civil registra que Paulo caiu de uma altura de 30 metros, ao passo que a empreiteira informa apenas oito metros, em seu comunicado oficial.
Macaé reclama que os acidentes na Usiminas “são sempre assim, com informações contraditórias. Muitas vezes, os óbitos ocorreram nas áreas da empresa, mas ela sempre nega e afirma que foram em hospitais”.
Paulo trabalhava num calor de aproximadamente 40 graus, nas imediações do alto-forno 1, com sensação térmica superior a 50 graus, sob sol intenso. Os colegas dizem que ele não gostava de horas extras.
Sofrimento
Ao cair da plataforma de 30 metros, Paulo chegou ao solo ainda com vida, segundo relato de seus colegas. Recolhido, ele morreu pouco depois, no setor de enfermagem da Usiminas.
O trabalhador sofreu bastante em seus últimos momentos, pois o maçarico de solda caiu com ele e veio queimando seu corpo, deixando marcas no rosto.  
As condições de trabalho dos soldadores são péssimas, a começar pelos equipamentos individuais de segurança e roupas muito quentes. A profissão tem aposentadoria especial aos 25 anos de trabalho.
Eles usam jaleco em couro, de manga comprida, perneira (espécie de bota) também de couro, capacete e máscara de aproximadamente um quilo. Apesar do peso insuportável do ‘epi’, Paulo não abria mão dele.
A sensação de peso da máscara e capacete chega facilmente a cinco quilos. E o desconforto é agravado pelas ondas ionizantes e ultravioletas do eletrodo aplicado no metal.
Ato ecumênico
Os seguidos congestionamentos na Rodovia Cônego Domênico Rangoni impediram a realização do ato ecumênico de segunda e terça-feira (3 e 4), na portaria da Usiminas.
O desta sexta-feira (7), porém, não foi prejudicado por congestionamento, que ocorre com intensidade de segunda a quinta. E terá ótima participação da categoria e de convidados.
“A insegurança no trabalho está preocupando a direção do sindicato pelo enorme volume de acidentes, que têm acontecido quase que diariamente”, diz o presidente Macaé.
Ele programará, para os próximos dias, uma grande passeata, que sairá do polo industrial e rumará para a Avenida 9 de Abril, no Centro de Cubatão.
Estruturas podres
“Há mais de 20 anos sem manutenção adequada, as estruturas da Usiminas estão podres. E colocam em risco a vida de seus trabalhadores e das empreiteiras terceirizadas.”
São palavras de Macaé: “Tudo ali é uma grande gambiarra, com ‘tubos roll’ sustentando estruturas e tubulações vencidas. A iminência de um enorme desabamento assombra diuturnamente o pessoal”.
A diretoria do sindicato tem se reunido, toda segunda-feira, para avaliar as visitas a obras e indústrias com foco principal na segurança e medicina do trabalho.
“E uma das grandes dificuldades desse trabalho está exatamente na Usiminas, que se fecha em copas e não permite a entrada do sindicato em suas dependências”, diz o presidente do Sintracomos.
Ele requereu ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que consiga, na siderúrgica, cópias das suas últimas atas de reuniões das cipas (comissões internas de prevenção de acidentes) de cada empreiteira.
“A siderúrgica está sucateada e sem perspectivas de uma grande reforma que garanta a segurança do pessoal”, finaliza Macaé. A Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), hoje Usiminas, foi privatizada em 1993.
Descuido
As empresas têm profissionais de segurança, mas não dão autonomia a eles, que acabam virando figuras decorativas. Isso, aliado à falta de estrutura do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), resulta no caos.
No polo industrial, as empresas e as empreiteiras adotam uma prática deplorável de saúde ocupacional. Ela consiste na criação de empresas particulares que substituem os profissionais de saúde.
A maior dessas empresas é a Life, que opera há alguns em benefício do capital e prejuízo dos trabalhadores, em total desrespeito à norma regulamentadora 4, do MTE.
Essa norma determina que as empresas devem ter médicos, além dos técnicos e engenheiros de segurança. Mas elas acham melhorar trabalhar com essas empresinhas como a Life.
Para se ter ideia da gravidade da situação, vale lembrar que a Usiminas, antes do advento da Life, tinha 52 médicos na usina. Hoje, infelizmente, tem apenas seis.
Fonte: Força Sindical
Desenvolvido por Agência Confraria

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