Portal do SMC - Acesse aqui

Fique Ligado

A banca internacional está devorando a Grécia

A crise do capitalismo é global, mas cada país deste vasto mundo vive um drama singular. A Grécia protagoniza uma autêntica tragédia.

Por Umberto Martins

Nesta quinta, 22, uma nova onda de greves sacudiu a Grécia. Trabalhadores do transporte público, motoristas de táxi, professores e controladores do tráfego aéreo cruzaram os braços um dia depois do anúncio de um novo pacote de arrocho fiscal imposto pela "troika" – Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e União Europeia (UE).

Revolta crescente

Os principais sindicatos do país convocaram duas novas paralisações nacionais, para os dias 5 e 19 de outubro. A revolta da classe trabalhadora cresceu com as novas medidas, que incluem cortes de 20% nas pensões superiores a 1,2 mil euros e de 40% nas superiores a mil euros pagas a pessoas com idade inferior a 55 anos, redução de até 60% dos salários de cerca de 30 mil funcionários públicos e privatizações.

A iniciativa traduz a capitulação do governo social-democrata, liderado pelo primeiro-ministro George Papandreou, à pressão da "troika", que exige sacrifícios adicionais para liberar um novo empréstimo no valor de 8 bilhões de euros, sem o qual a Grécia não poderá evitar a moratória em outubro.

Quatro anos de recessão

O empréstimo, apresentado pela mídia em geral como "ajuda" ou "socorro", é um verdadeiro presente de grego. O dinheiro em questão não será destinado a aliviar as dores do povo, reduzir o desemprego ou estimular a produção. Vai direto para o bolso dos bancos credores (franceses e alemães são os mais expostos à dívida externa da Grécia), de modo a evitar a interrupção do pagamento.

Mais de 100 bilhões de euros já foram liberados com esta finalidade, condicionados (como sempre, em tais ocasiões) ao arrocho fiscal. O programa fracassou. O fantasma do calote não foi exorcizado. A crise da dívida piorou e um novo plano foi elaborado neste ano. O custo da brincadeira é alto para a nação e intolerável para trabalhadores e trabalhadoras.

O país já caminha para o quarto ano consecutivo de recessão (conforme admitiu recentemente o ministro das Finanças, Evangelos Venizelos), sendo de longe o que mais sofre as consequências da crise mundial. O PIB recuou 7,3% no segundo trimestre deste ano. A taxa de desemprego subiu a 16,3% no mesmo período, seu nível mais elevado desde o final dos anos 1990. Em 2010, quando a "troika" começou a ditar as regras da política econômica, era de 11,8%.

A tática subjacente aos pacotes visa viabilizar o pagamento da dívida externa ampliando o excedente extraído do trabalho (ou o tempo de trabalho excedente da sociedade, aquilo que Karl Marx denominou de mais-valia). Os ajustes em curso em toda a Europa têm também um objetivo mais profundo e ambicioso, que é elevar a competitividade da decadente indústria do velho continente, reduzindo os chamados custos trabalhistas, para enfrentar a concorrência da China. O resultado concreto e visível é o acirramento da luta de classes.

Círculo vicioso

Percebe-se que a depressão econômica não tem muito a ver com as crises rotineiras, cíclicas, que perturbam recorrentemente o sistema capitalista e cujas causas, objetivas, radicam no próprio processo de reprodução ampliada do capital. Trata-se, neste caso, do resultado lógico e inevitável dos pacotes da "troika", feitos para preservar os lucros do sistema financeiro e que aprisionam a economia grega a um cruel círculo vicioso.

O ajuste fiscal é o remédio receitado pelo FMI, BCE e UE, para reduzir o déficit e forçar a economia de recursos suficiente para bancar o pagamento da dívida externa. Todavia, seus efeitos concretos não são necessariamente condizentes com tais objetivos. Os cortes nos gastos públicos contribuem para deteriorar ainda mais o quadro econômico, comprimindo o consumo, desestimulando a produção e reduzindo, por extensão, a própria arrecadação.

A relação dívida/PIB disparou no rastro do ajuste. Era de 127% em 2009, avançou para 142,8% em 2010 e 180% neste ano. A Grécia está hoje muito mais próxima da moratória do que antes do "socorro" patrocinado pela "troika". Inúmeros economistas, progressistas e conservadores, consideram o calote inevitável.

A conclusão que se extrai dos fatos é que a banca internacional está literalmente devorando a Grécia. Portugal e Espanha seguem rumos parecidos. Os interesses desses povos e nações são sacrificados no altar dos credores em nome da estabilidade do euro. O bom senso sugere outro caminho, que passa pelo estímulo à produção, o combate ao desemprego e a valorização do trabalho. É este o clamor das ruas, a demanda dos grevistas e das forças políticas comprometidas com os interesses populares. Há uma pedra neste caminho: a ganância do capital financeiro.

Fonte: Vermelho

Desenvolvido por Agência Confraria

O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC) utiliza alguns cookies de terceiros e está em conformidade com a LGPD (Lei nº 13.709/2018).

CLIQUE AQUI e saiba mais sobre o tratamento de dados feito pelo SMC. Nessa página, você tem acesso às atualizações sobre proteção de dados no âmbito do SMC bem como às íntegras de nossa Política de Privacidade e de nossa Política de Cookies.