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Plano Real faz 14 anos em meio a preocupações com a inflação

O Plano Real completa nesta terça-feira (1) 14 anos em meio a preocupações com a inflação. O temor de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) possa encerrar o ano em 6,30% (segundo a mediana da pesquisa Focus, mas a Agência Estado apurou projeções de até 7,20%), assusta, sem dúvida, e não deve ser menosprezado. Tanto que o Banco Central está vendo escapar pelos seus dedos o cumprimento da tarefa de manter uma taxa anual próxima a 4,50% e, para evitar que esse desvio permaneça nos próximos anos, optou por um ciclo de aperto monetário.

A questão é que seu começo, em abril, foi mais incisivo do que o previsto inicialmente e talvez seu final também esteja mais distante do que o imaginado num primeiro momento. É preciso ressaltar que, desta vez, o problema não é só nosso. O mundo todo busca soluções para a disparada dos preços, principalmente das commodities. E, dentro desse cenário, o Brasil, a Tailândia e o Canadá são os únicos países que aderiram ao sistema de metas de inflação e que ainda não estouraram o teto do intervalo.

Nem por isso, pode-se relaxar. Se o dragão não morreu como se gostaria, ele passou por um período de hibernação e volta e meia acorda, fazendo questão de lembrar a todos que está vivo. Mesmo assim, os tempos são outros. A taxa de inflação que na véspera do lançamento do Plano, em junho de 1994, estava ao redor de 50% ao mês, baixou para taxa mensal em torno de 1,7% nos primeiros seis meses de 1995. Desde 1º de julho de 1994, o IPCA, que é o índice oficial de inflação no País, acumula alta de 227% até maio. No mesmo período, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) registrou que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) teve elevação de 194,28%. Nada mal, se for levado em conta que, apenas no ano anterior ao início do Plano Real, o mesmo indicador de preços da capital paulista disparou 2 490,99%.

A criação do Plano Real, no governo Itamar Franco, e sua perpetuidade até hoje não trouxeram como benefício apenas o controle inflacionário. Trouxeram também seus reflexos, como a estabilidade e a previsibilidade econômica. "De 2004 para 2005 houve um aumento muito rápido da taxa de crescimento (do Produto Interno Bruto, PIB), mas o padrão de investimento no Brasil era menor e ainda refletia as arrancadas e freadas das últimas décadas porque não existia, na época, algo que é fundamental para o crescimento e que se chama previsibilidade", avaliou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, há cerca de 15 dias, durante palestra em São Paulo.

Nesse evento, ele ressaltou também que as projeções do mercado para a inflação de 2011 e 2012 estavam abaixo da meta dos últimos anos de 4,50% - na segunda-feira, também foi definida essa taxa até 2010. "Há alguns anos, eu via essas projeções (de longo prazo) nos Estados Unidos e na Europa e pensava: 'Que coisa maravilhosa, eles têm previsões para inflação na meta para os próximos anos e todos estão acreditando nisso", ressaltou. "Agora, no Brasil, temos isso. E isso é importante porque faz com que o custo da política monetária seja menor", acrescentou.

Além de representar um custo menor para a política monetária, a estabilidade e a previsibilidade facilitam o planejamento de investimentos das empresas, são o ponto de partida para o Brasil crescer e dão subsídios para que o País tenha atingido este ano o selo de grau de investimento - primeiro, pela Standard & Poors (S&P), ao final de abril, e, um mês depois pela Fitch. "O grau de investimento que foi dado ao Brasil pelas agências de rating levou em consideração a previsibilidade, que é algo que está sendo incorporado agora ao vocabulário econômico brasileiro. Não valorizávamos isso nas últimas décadas", comentou Meirelles na mesma ocasião.

A presidente da S&P no Brasil, Regina Nunes, enfatizou na segunda-feira (30) à noite, à Agência Estado, os ganhos da estabilidade macroeconômica advindos desde o início do Plano Real. "O sucesso do real é tão grande, proporcionando estabilidade econômica e inflação baixa, que as pessoas se esquecem do 14º aniversário do Plano", comentou. Para ela, não há mais espaço no País para a discussão de novos planos, e o que sobram agora para o debate são ações micro e macroeconômicas de outra ordem.

Regina insiste na continuidade da melhora do perfil dos títulos da dívida brasileira. Ela elogiou o fato de a parcela atrelada ao câmbio ter atingido a marca zero, mas sugere um aumento da fatia de títulos prefixados, considerados como o ideal. Justamente para que o governo não aumente seus gastos com juros da dívida num momento de aumento de inflação, como o atual. Na segunda, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, explicou que a elevação recente dos principais índices de preços, como IPCA, IGP-M e IGP-DI, têm elevado a despesa. "Ainda que seja melhor do que vinculação a dólar ou euro, dívida vinculada a indicadores de inflação podem ser um alimento de alta da mesma", argumentou a presidente da S&P.

A discussão da alta atual dos preços não está circunscrita a rodas de especialistas e presidentes de bancos centrais pelo mundo afora. Voltou a ser, quem diria, a bola da vez das preocupações da população. Ontem também, a principal revelação da pesquisa CNI/Ibope foi o fato de o tema ter sido o que registrou a maior variação negativa da agenda econômica nos últimos três meses, sendo o terceiro item do noticiário mais lembrado pelos entrevistados e também (o mais lembrado foi a execução dos três jovens entregues a um grupo de traficantes no Morro da Mineira, no Rio, por homens do Exército). De acordo com o levantamento, 65% dos brasileiros acham que a inflação vai aumentar.

Momentos de apreensão e ajustes são inerentes ao processo de estabilidade dos preços. Afinal, apesar de ter dado provas de que veio para ficar, o Plano Real não é mágico e nem resolveu todos os problemas do País. Foi apenas um ponto de partida e, assim como foi aceito com credibilidade em seu lançamento, é preciso ter confiança nas ações dos bancos centrais no combate à inflação atual. Um aprendizado do plano foi justamente o de saber que as soluções para obstáculos econômicos não surgem de uma hora para outra. Paradoxalmente, parte do sucesso do Plano Real pode ser explicada pelo fracasso de planos anteriores, como o Cruzado, o Bresser e o Collor, só para citar alguns. No plano que vigora até hoje, não houve surpresas nem artificialismos, como congelamento de preços ou apropriação de recursos da população, por exemplo. Não são poucos, porém, os itens da economia brasileira que ainda precisam ser melhorados. Entre os mais citados atualmente está o do excesso e da qualidade dos gastos do governo, que, por sinal, também colaboram para a alta da inflação. Obviamente, o caminho a percorrer ainda é longo, mas o terreno já foi nivelado e, nesse ponto, é incontestável a contribuição do Planos Real nesses últimos 14 anos.

Fonte: Agência Estado

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