Escolas técnicas e Fatecs entram em greve por reajuste salarial na próxima sexta-feira
Fonte: Carta Capital
A já anunciada greve de professores e funcionários das Etecs e Fatecs do Centro Paula Souza de São Paulo foi confirmada ontem em assembleia geral e iniciará na sexta-feira, 13 de maio. Sem reajustes desde 2005, os trabalhadores pedem aumento de mais de 80% e implantação de política salarial. Das 93 unidades que realizaram assembléias regionais, 63 aderiram ao movimento. O governador Geraldo Alckmin comunicou que anunciará reajuste na sexta-feira.
Para Silvia Elena Lima, secretária geral do Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza (Sinteps), apesar de o governo paulista utilizar as escolas ténicas e Faculdades de Tecnologia como propaganda de sua política educacional, não existe um reconhecimento do trabalho feito por funcionários e docentes nessas instituições.
CartaCapital: Todas as unidades da rede técnica vão entrar em greve?
Silvia Elena Lima: O nosso sindicato é composto de
escolas do Estado de São Paulo inteiro. Para ter uma assembléia
representativa, foram convocadas assembléias setoriais nos últimos 15
dias. A assembléia de ontem era para tabular os dados e deflagrar a
greve. Durante a reunião, mais unidades foram aderindo. A coisa está
andando. O governo já anunciou que vai oferecer reajuste. O índice será
anunciado na sexta-feira, no mesmo dia em que a greve inicia e, então,
avaliaremos se ela terá continuidade ou não.
CC: Houve negociação anterior com o governo?
SL: A nossa categoria não tem tradição
grevista. Só faz paralização quando a corda está no pescoço. A gente
chamou a greve durante todos os anos, mas nas assembléias elas não foram
aceitas. O governo lança alguma outra coisa no lugar para evitar a
greve. Em 2008, anunciaram a nova carreira. Para alguns foi bom, mas ela
ficou congelada. As pessoas tendem a acreditar que o governo vai
reconhecer o trabalho da gente. Ninguém aguenta mais receber 10 reais
por hora aula. O Brasil deu uma deslanchada em termos econômicos. A rede
federal cresceu muito em São Paulo e é uma referência. Comparado com a
rede federal, os benefícios e salários da estadual são uma piada.
Professores estão percebendo isso e saindo. O clima é insuportável, tem
que mudar. Alguma coisa precisa ser feita.
CC: A política de bonificação não ajudou a minimizar as perdas salariais?
SL: Os critérios usados para a concessão do
bônus são questionáveis, levam em conta aspectos que não dependem do
professor, é uma coisa de louco. Tantas são as criticas que parece que
vão mesmo acabar com o a política de bônus e voltar com a política de
reajustes. A repercussão da reportagem da CartaCapital (leia as matérias aqui e aqui)
ajudou, inclusive, na decisão. Resolveram pagar para todo mundo o
bônus, mesmo para aqueles que tinham zerado. Não havia um critério claro
no pagamento da bonificação. Desconfio que esse bônus seja sorteado.
Quem zera agora, não zera no ano que vem, tem um revezamento. Para o
governo, as metas não são para serem atingidas. Eles não querem que a
gente cumpra os objetivos traçados. Mas o bônus é uma questão superada
no momento. Todo mundo recebeu. A luta é por reajuste e melhorias de
salário. Além disso, poucos recebem vale-alimentação e refeição e quem
recebe, tem apenas 4 reais por dia.
CC: Quanto foi pedido de reajuste?
SL: Acima de 80% para docente e mais de 100%
para funcionários. Mais benefícios. Outra pauta importante é a definição
de uma política salarial. Nós temos esse enorme arrocho porque o PSDB
acabou com a política salarial que existia antes e não criou outra.
Plano de carreira até tem, mas não existe política salarial. Além do
reajuste, queremos a definição de qual será a política salarial daqui
para frente.
CC: Existe diferença nas reivindicações entre Fatecs e Etecs?
SL: A diferença existe na reivindicação para docentes e funcionários. Os funcionários são mais penalizados nestes últimos anos.
CC: Qual foi o apoio dos estudantes?
SL: Vários Centros Acadêmicos estão apoiando.
Agora mesmo rcebemos mais um apoio de Centro Acadêmico da ETEC Zona Sul,
Santo Amaro. O Poligremia, grupo composto por vários grêmios de escolas
técnicas, irão até o nosso ato anunciar o apoio. Os estudantes entendem
o movimento porque convivem conosco no dia a dia e sabem que falta
muita coisa nas escolas, falta professores e funcionários.
CC: Na carta de lançamento da greve, foi citado o fato da
grande propaganda que o governo faz das Etecs e Fatecs. Por que destacar
isso?
SL: Tem um imaginário popular que acha que
vivemos a oitava maravilha do mundo porque tem muita propaganda. Quando a
gente fala que a gente recebe 10 reais por hora/aula, muitos não
acreditam. O governo faz muita propaganda das Etecs e Fatecs. De fato,
temos bons indicadores. Somos uma instituição que deu certo, mas deu
certo por nosso esforço e isso eles não reconhecem. Todo mundo sabe
que o governo usa a gente como propaganda, mas na hora de ver condições
de trabalho não tem negociação.